segunda-feira, 10 de julho de 2017

Uma estada no Paraíso - Ângela Delgado

   No avião, rumo a Lisboa, o deleite com o Escondidinho de Carne e a sobremesa teriam me levado às alturas, se lá já não estivesse, rindo com o comissário de bordo que, ao me ouvir elogiar o menu, retrucou ter sido feito por ele. Kkkk.
   Claro “kã” (como pronuncia um português o nosso “que”) se tivesse ouvido uma reclamação, em vez de arrogar-se a autoria da refeição, com certeza, teria dito “kã” comunicaria  a queixa à Tap Portugal.
   Dali em diante, após o encontro dos irmãos e cunhados, o sucedido foi um festival de gargalhadas entremeadas com copos de vinho, Mojitos e Piñas Coladas.
   Mais tarde, no elevador do shopping “El Corte Inglés”, duas raparigas conversavam. Quando saíram, em andar inferior ao que nos dirigíamos, perguntei:
     - Elas não estavam falando português, estavam?
     - Sim< respondeu uma portuguesa. Infelizmente, as jovens falam assim hoje!
     Fiquei pasma, pareciam oriundas da Hrvatska, ou seja, da Croácia.
     De volta ao hotel, sabedor da existência de uma escada rolante ligando o Chiado ao Bairro Alto, indagamos sua localização à recepcionista. Como a portuguesa arregalara os olhos, dizendo não existir tal coisa, nós nos espantamos mais ainda, e eu, com o intuito  de lhe elucidar o significado de “escada rolante”, já que me parecera “kã” em Portugal, usavam expressão diferente para tal comodidade, disse-lhe, que enquanto ficávamos parados, a escada nos transportava de um lugar a outro.
     - Não querem mais nada!
Desistimos e saímos incrédulos do hotel, eu com pena de não ter levado o dicionário de português "Lá como cá" e suspeitando de que a portuguesa apenas se divertira com brasileiros.
        Em uma manhã de vento forte em que nos dirigíamos à praia, foi lembrada uma historinha de uma senhora, beirando os oitenta, que estava preocupada em segurar o chapéu, enquanto o vento levantava sua saia. Alertada do fato, respondeu que o que ele exibia, ah, tinha quase oitenta anos, enquanto seu chapéu só uma semana!










  Ao final de um mês a me deliciar com Pastéis de feijão; Babas de camelo; Natas do céu; Samosas  - um pastel indiano -  e outros quitutes; após ouvir músicas gostosas; festejar meu aniversário com pessoas muito queridas (hélas, impossível passá-lo com todas); rir como nunca; ver beleza por toda a parte e constatar que Portugal continua limpo como sempre - o piso nas ruas chega até a brilhar - cheguei em Brasília tão bronzeada que minha filha ficou na dúvida se eu havia ido a Portugal ou à Bahia.

   Aqui coloco um adendo aqui, já que o assunto é Portugal.
Fernando Sabino precisava comprar esparadrapo.
   "Não foi fácil comprar. Eu sabia que em Portugal esparadrapo tem outro nome. Como seria? Entrei na farmácia tentando adivinhar. Se eu falasse em esparadrapo, o farmacêutico ia achar que eu estava de galhofa. Mostrei-lhe com mímica que queria aquela coisa com a qual se faz um curativo. Ele entendeu logo e me trouxe  um pacote de gaze e um de algodão.
     - Nem uma coisa nem outra. Aquela que cola.
     - Ah, o senhor quer dizer esparadrapo.
     Mais tarde descobri que não fui tão idiota assim, pois que a palavra era outra mesmo, o boticário devia ser bilíngue: eles chamam é de "penso."


                                                                   Tavira, no Algarve
                                                         música "I can´t live without you".

Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau - Rua Augusta, em Lisboa.




"♫ Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz..."


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