quinta-feira, 14 de junho de 2018

A manhã de hoje

                          

   Por causa de um salgadinho saboreado ao entardecer, à noite tive um pesadelo. E o culpei, porque a coincidência se repetiu, no mínimo, pela terceira vez. Mas, vamos ao que enfrentei enquanto dormia: nada mais - ou nada menos – do que Lula e Dilma. Seria possível a desgraça se alastrar em outra dimensão?
     Levei, então, a mistura de Pastor Alemão com Akita que temos aqui em casa e fomos, corajosamente, derrubar de uma vez por todas, a maldita dupla. Que me desculpem os petistas.
     Amedrontava a todos pela frente, até que contra-atacaram com um ratinho fatal. Estava eu nesse dilema, quando acordei aliviada.
     Daí me levantei disposta a recomeçar o namoro com o dia. Em frente ao espelho, constato a secura de minha pele. Chego à conclusão de que o famoso creme não está fazendo efeito. Acho que - aqui me rendo em minha batalha para usar o tempo futuro - vou apelar para a sabedoria antiga: a velha pomada “Minâncora”.
     Lendo a bula, relembro que ela combate espinhas e o efeito de picadas de insetos, mas não hidrata.Vick Vaporub igualmente combate espinhas; elimina dor de cabeça, vejam só;  alivia dores nas articulações, etc., mas só hidrata lábios... A última tentativa: Listerine, quem diria? Além de enxaguante bucal, serve para limpar vidros, pisos e, ao fim de uma longa lista de promessas, a limpeza do rosto é uma delas, mas não há menção de hidratá-lo. Como não?! Que droga de produto é esse que só resolve 37 problemas?
     Desisto e ligo o celular, onde há um apelo urgente para salvar elefantes na África, com a agravante de termos que enviar um donativo.
     Só me faltava essa. Como se não tivesse preocupações suficientes, e não me refiro à pele. Que me desculpem os ecologistas ou seriam os ambientalistas?
    Enquanto cedo a este impulso irresistível de tudo colocar no papel, na mensagem do Whatsapp me esperam, "no elevador parado e às escuras, um argentino, um brasileiro, uma gostosa e uma freira"... 
Sabe-se lá o desenlace da piada, que será lida mais tarde.
     O dia avança, e junto com ele a hora em que devo me colocar sob o sol, para a devida absorção de vitamina D,
     Lá fora, eis que me defronto com duas pequenas abelhas engalfinhadas, na luta por uma folhinha. Com tantas ao redor, elas não a largam, há mais de 20 minutos. Joguei-lhes outra folha, porém ignoraram-na. Serão os animais tão cegos quanto os humanos? Deu vontade de pisoteá-las, mas pensando no Livre Arbítrio, deixei-as ao seu bel prazer. No entanto, a dúvida de que uma delas fosse fêmea e precisasse ser salva, me fez tentar separá-las. Em vão. Finalmente, tinha mais o que fazer e que me desculpassem os biólogos.
     À toda essa avalanche de acontecimentos, somaram-se as pouco emocionantes notícias do jornal, aberto ao lado do livro, que aguardaria pacientemente na fila sua  oportunidade de me encantar.

     Ao digitar esta postagem no escritório, no andar superior e de janelas fechadas, ouvi um pedido abafado de socorro. Abri uma das janelas e chamei:
- Adélia?
     Não obtendo resposta, achei que fosse a vizinha vendo uma barata. Só que era meu marido caindo de uma escada. Bateu no chão com a testa, que logo sangrou muito, formando-se um enorme galo. O grito havia sido da faxineira e, graças a Deus, ele está bem.

Angela Delgado