sexta-feira, 27 de março de 2020


Vejam o talento dela :

https://www.youtube.com/watch?v=vxaYbQz_RJU


domingo, 22 de março de 2020

  • (Uma tentativa de fazê-los rir, em tempos de coronavírus.)


  • De mel a pior - Fernando Sabbino

  •  - Qual é a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo adequar?
  • - pergunta-me ele ao telefone.
  • - Nós adequamos - respondo com segurança.
  • - Primeira do singular - insiste ele.
  • - Espera lá, deixe ver. Com essa você me pegou.
Arrisco, vacilante:
  • - Eu adéquo?
  • - Não, senhor.
  • - Eu adeqúo? Não pode ser.
  • - E não é mesmo.
  • - Então, como é que é?
  • - Quer dizer que você não sabe?
  • - Deixe de suspense. Diga logo.
  • - Não tem. É verbo defectivo.
  • - E você me telefonou para isso? Verbo defectivo. Tudo bem. Eu não teria
  • mesmo oportunidade de usar esse verbo na primeira pessoa do singular do presente
  • do indicativo. Nunca me adéquo a questões como esta.
  • - Presente do indicativo ou indicativo presente? - é a minha vez de perguntar.
  • No nosso tempo era indicativo presente.
E é a vez dele não saber. Desculpa-se dizendo que andaram mudando
tanto a nomenclatura gramatical, que a gente acaba não sabendo mais nada.
  • - E o verbo delinquir? - torna ele.
  • - Que é que tem o verbo delinquir - quero saber, cauteloso.
  • - A primeira do singular?
  • - Não tem. Também é defectivo.
          Mas ele é teimoso:
  • - E se um criminoso quiser dizer que não delinque mais?
  • - Se usar esse verbo, já delinquiu.
  • - Então me diga uma coisa: você sabe qual é a primeira do singular do verbo parir no
  • indicativo?
  • - Ninguém pare no indicativo.
  • - Pare, e em todos os tempos, meu velho.
  • - Esse, quem não corre o risco de usar sou eu.
  • - Pois então fique sabendo: é simplesmente igual à primeira pessoa do singular do
  • verbo pairar.
  • - Eu pairo?
  • - É isso aí. Uma senhora que tem muitos filhos pode perfeitamente dizer:
  • eu pairo um filho por ano.
  • É a vez dele:
  • - Você sabe qual é o plural de mel?
  • - Já vem você. Mel não tem plural.
  • - Como não tem? Tem até dois.
- E me conta que outro dia um entendido em mel fazia uma preleção
sobre o assunto na televisão. No que saiu do singular para se meter no plural,
quebrou a cara: Acabou falando que existem muitos mels diferentes.
  • - E não existem?
  • - Existem. Mas não mels. Com essa ele se deu mal.
  • - Se deu mel, então.
Era a asa da imbecilidade começando a ruflar aos meus ouvidos:
  • - Ou você vai me dizer que mel também é defectivo?
  • - Perguntei à uma amiga que entende.
  • - De mel?
  • - Não: de plural. Ela confirmou: tanto pode ser méis como meles.
  • Mels é que jamais.
     A esta altura o mentecapto fala mais alto dentro de minha cabeça:
  • - Dos meles, o menor.
  • Como ele não responde, acrescento:
  • - Até logo. Melou o assunto.
E desligo o telefone.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

   Vinícius (em construção)

Ao entrar no quarto, com um exemplar de “Ópera do Poeta e do Bárbaro”, para Ana dá-lo à sua chefe, Vinícius ouviu nossa conversa e o meu comentário de que seu guarda-chuva deveria ficar na bolsa. Ao ver sua mãe de saída para o trabalho, ele pegou o livro, que ela já ia esquecendo, e lho entregou. Feito isso, pegou o guarda-chuva e colocou-o em sua bolsa.     
                      Além de perspicaz, tem um sétimo sentido que o leva a sentir a presença da Ana à distância. Quando estamos fechados em um quarto, e ela mal se aproxima do portão, ele exclama: Mamãe!      
  Outro dia, estávamos, ele e eu, em um supermercado. De repente, ele a chama bem alto. Ao me virar, vejo-a através do vidro, estacionando o carro... Igualmente, se ele está dormindo e ela chega, ele senta-se na cama e diz: Mamãe "agou". O que significa “chegou” em  bebenês.
     Com apenas um ano e onze meses, é extremamente ordeiro. Deixa tudo como encontrou seja um par de sapato juntinho ou qualquer outro objeto explorado por ele, em sua infinita curiosidade.                   
     Ontem, quando cheguei com seu leite, primeiro desligou o celular de sua mãe, onde assistia a um desenho, para depois segurar a mamadeira.
     Outra qualidade dele é a persistência: brincando com um carrinho, colocou-o em um saco plástico. Ao tentar retirá-lo, não conseguia pois o plástico havia se enroscado nas rodas.                                                                 
 – Quer que eu o ajude, perguntei.                                                                                                                                        - Não, eu consigo.                    
Ficou um bom tempo tentando, fazendo força e puxando o plástico daqui e dali, até que triunfou e se abriu em um sorriso  de satisfação consigo próprio.      

      Um dos "presentes" do Natal de 2019.  Vinícius, ça va sans dire.