sábado, 10 de novembro de 2018




Este será o melhor presidente que o Brasil já teve. Que os perdedores juntem-se ao nosso barco,
em proveito do país e de todos os brasileiros.
Boa sorte, Capitão, parabéns por toda a sua bravura, coragem, honestidade, simplicidade e patriotismo. Que Deus o proteja!

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

É conversando que a gente se desentende - Rubem Alves


    É de madrugada, naquele intervalo confuso entre o sono e o estar acordado,
que os deuses me fazem suas revelações. Acontece, então, que as coisas mais
banais aparecem à minha frente pelo avesso, o que muito me surpreende porque,
pelo avesso, as coisas são o oposto do que parecem ser pelo direito.
    Hoje, por exemplo, os deuses revelaram-me que a separação vem da
compreensão. Para se ficar junto é melhor não entender. Isso é o oposto do que
pensam os casais que vivem brigando. Acham que suas brigas devem-se ao fato
de não se entenderem e pedem então socorro aos terapeutas, quem sabe a
terapia fará com que se entendam melhor, o que é fato, mas a conclusão não
segue a premissa. Não é certo que, depois de se entenderem melhor, vão ficar
juntos.
    Frequentemente é no exato momento da compreensão que a separação
torna-se inevitável. Nada garante que o compreendido seja gostado. Prova disso
é o que aconteceu com o meu sogro, que odiava miolo. Convidado para jantar,
deliciou-se, repetiu e fartou-se com uma maravilhosa couve-flor empanada.
Ao final do banquete, cumprimentou a anfitriã pelo prato divino. Mas ela logo
explicou: “Não é couve-flor, é miolo empanado...” E ele entendeu, entendimento
que o catapultou na direção do banheiro mais próximo, onde o jantar foi vomitado.
É assim. Às vezes, quando a gente não entende, come e gosta. Quando entende, desgosta e vomita.
    Afirmação assim avessa, tão contrária ao senso comum, exige uma explicação
e é o que passo a fazer.
    Abri, no meu micro, um arquivo com o nome de “Encíclicas”. Coloco ali o texto
das encíclicas que vou promulgar quando for eleito Papa. Como se sabe, o papa
Leão XIII, em 1891, promulgou a encíclica De Rerum Novarum que quer dizer
“Sobre as coisas novas”. De repente, a Igreja, que até então acreditava que tudo
o que merece ser conhecido estava guardado no seu baú milenar de doutrinas,
percebeu, com um susto, que coisas novas, interessantíssimas, aconteciam no
mundo.
    E o bom Papa apressou-se a passar essa informação adiante. Esse foi o início
de um enorme esforço de modernização da Igreja que não deu certo, pois não se
coloca remendo de pano novo em pano velho. O pano velho começou a rasgar...
Desejoso de reparar o mal que a encíclica De Rerum Novarum causou, escrevi
a sua antítese, a encíclica De Rerum Vetustarum, ou seja, “Sobre as coisas velhas”.
    E a sua substância é extraordinariamente simples. Reza a encíclica que, do
momento de sua publicação para frente, tudo, absolutamente tudo o que ocorrer
na Igreja, as fórmulas litúrgicas, as bênçãos sacerdotais, batizados, crismas,
casamentos, funerais, hinos, leituras dos Textos Sagrados, sermões, encíclicas,
e mesmo as falas do padre ao confessionário, tudo deverá ser feito em latim.
Ah! Como é belo o latim! Soa como uma “liturgia de cristal”, música pura
    Se os padres falassem em latim, a gente não entenderia nada e amaria tudo.
A linguagem clara e distinta mata a fantasia. Dentro do que ninguém entende
cabe tudo: miolo vira couve-flor e o corpo e a cabeça aprovam.
     A compreensão sempre dá briga. Imagino, mesmo, que foi por isso que
Deus confundiu as línguas da humanidade na construção da Torre de Babel.
As pessoas falavam a mesma língua. Falando, entendiam-se. Entendendo-se,
compreendiam as opiniões uns dos outros. Compreendendo as opiniões uns
dos outros não gostavam delas. E daí passavam às vias de fato.
Deus Todo-Poderoso compreendeu, então, que a única forma de evitar pancadaria
era fazer com que eles não se entendessem.
   Fica o conselho aos casais que estão brigando. Cuidado com a conversa.
Da conversa pode nascer a compreensão, da compreensão pode surgir a separação.
A compreensão pode ser tão fatal para o casamento quanto ela foi para o jantar do meu sogro.
É conversando que a gente se desentende.
  Previnam-se contra a terapia de casal. Ela pode produzir compreensões insuportáveis.
Adotem a sabedoria milenar da Igreja: adotem o latim como língua da casa. E
dediquem-se à música, dando preferência aos instrumentos de sopro, pois
enquanto se sopra não se fala e, assim, a compreensão e a separação são evitadas.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

A manhã de hoje

                          

   Por causa de um salgadinho saboreado ao entardecer, à noite tive um pesadelo. E o culpei, porque a coincidência se repetiu, no mínimo, pela terceira vez. Mas, vamos ao que enfrentei enquanto dormia: nada mais - ou nada menos – do que Lula e Dilma. Seria possível a desgraça se alastrar em outra dimensão?
     Levei, então, a mistura de Pastor Alemão com Akita que temos aqui em casa e fomos, corajosamente, derrubar de uma vez por todas, a maldita dupla. Que me desculpem os petistas.
     Amedrontava a todos pela frente, até que contra-atacaram com um ratinho fatal. Estava eu nesse dilema, quando acordei aliviada.
     Daí me levantei disposta a recomeçar o namoro com o dia. Em frente ao espelho, constato a secura de minha pele. Chego à conclusão de que o famoso creme não está fazendo efeito. Acho que - aqui me rendo em minha batalha para usar o tempo futuro - vou apelar para a sabedoria antiga: a velha pomada “Minâncora”.
     Lendo a bula, relembro que ela combate espinhas e o efeito de picadas de insetos, mas não hidrata.Vick Vaporub igualmente combate espinhas; elimina dor de cabeça, vejam só;  alivia dores nas articulações, etc., mas só hidrata lábios... A última tentativa: Listerine, quem diria? Além de enxaguante bucal, serve para limpar vidros, pisos e, ao fim de uma longa lista de promessas, a limpeza do rosto é uma delas, mas não há menção de hidratá-lo. Como não?! Que droga de produto é esse que só resolve 37 problemas?
     Desisto e ligo o celular, onde há um apelo urgente para salvar elefantes na África, com a agravante de termos que enviar um donativo.
     Só me faltava essa. Como se não tivesse preocupações suficientes, e não me refiro à pele. Que me desculpem os ecologistas ou seriam os ambientalistas?
    Enquanto cedo a este impulso irresistível de tudo colocar no papel, na mensagem do Whatsapp me esperam, "no elevador parado e às escuras, um argentino, um brasileiro, uma gostosa e uma freira"... 
Sabe-se lá o desenlace da piada, que será lida mais tarde.
     O dia avança, e junto com ele a hora em que devo me colocar sob o sol, para a devida absorção de vitamina D,
     Lá fora, eis que me defronto com duas pequenas abelhas engalfinhadas, na luta por uma folhinha. Com tantas ao redor, elas não a largam, há mais de 20 minutos. Joguei-lhes outra folha, porém ignoraram-na. Serão os animais tão cegos quanto os humanos? Deu vontade de pisoteá-las, mas pensando no Livre Arbítrio, deixei-as ao seu bel prazer. No entanto, a dúvida de que uma delas fosse fêmea e precisasse ser salva, me fez tentar separá-las. Em vão. Finalmente, tinha mais o que fazer e que me desculpassem os biólogos.
     À toda essa avalanche de acontecimentos, somaram-se as pouco emocionantes notícias do jornal, aberto ao lado do livro, que aguardaria pacientemente na fila sua  oportunidade de me encantar.

     Ao digitar esta postagem no escritório, no andar superior e de janelas fechadas, ouvi um pedido abafado de socorro. Abri uma das janelas e chamei:
- Adélia?
     Não obtendo resposta, achei que fosse a vizinha vendo uma barata. Só que era meu marido caindo de uma escada. Bateu no chão com a testa, que logo sangrou muito, formando-se um enorme galo. O grito havia sido da faxineira e, graças a Deus, ele está bem.

Angela Delgado