Teletransporte
Gostaria que Martha Medeiros se encarnasse em mim, para poder comentar a visão de um casal caminhando, comoventemente, de mãos dadas. Isso sempre me afeta. Será que ele está querendo mostrar à mulherada da vizinhança ser romântico até debaixo d’água e, no caso, sob o sol? Ou será que estão no segundo, até terceiro casamento?
Gostaria que Martha Medeiros se encarnasse em mim, para poder comentar a visão de um casal caminhando, comoventemente, de mãos dadas. Isso sempre me afeta. Será que ele está querendo mostrar à mulherada da vizinhança ser romântico até debaixo d’água e, no caso, sob o sol? Ou será que estão no segundo, até terceiro casamento?
Bem, de qualquer modo, isso não funcionaria comigo, sempre com as mãos ocupadas com uma sacola com alguma roupa para a costureira, outra de abacates para ela e para o jornaleiro, quando não é um sapato para o sapateiro, uma carta para o correio, ainda tendo que administrar o fone de ouvido que, de vez em quando, sai do lugar.
Mais adiante, um menininho, também com a mão ocupada, segurando seu cachorrinho pela coleira, começa a gritar, quando o cãozinho resolve latir, partindo para cima de um “pitbull”, conseguindo se libertar da mão que o retinha!
Após um Deus me acuda, foram salvos pela mão da babá. São as vantagens de mãos disponíveis.
Na realidade, não tenho do que me queixar e sim agradecer pelo lindo dia; pelo lanche caprichado, que o marido de uma longa e única viagem preparou com carinho; pela mãe e filhos saudáveis; pela família de poetas que tenho; pelos netos maravilhosos; pela viagem que farei na semana que vem etc.
E o dia terminou com comentários sobre a disposição de minha cunhada pegando o metrô e depois um trem, para ver o show do Paul McCartney e o consequente espanto de nossos trinetos ao constatarem no futuro, que, não apenas eu levando uma carta para o correio e a Martha Medeiros, ainda usando talão de cheques, éramos dinossauros, mas que o éramos todos, pois não nos teletransportávamos!
Só que não vai dar certo:
Primeiro porque desempregará milhões de pessoas ligadas ao transporte público, que só vigorará no transporte de cargas e, depois, pensem em bandidos se teletransportando diretamente para a sua sala. Teremos que ter cercas elétricas dentro de nossas casas; ao redor de nós, talvez? Ativaremos raios paralisantes sobre intrusos? E a colisão de rotas, o IPVA sendo substituído pelo ITT?
É melhor ir dormir, e quer saber? Não somos tão dinossauros assim. Nos sonhos, já nos teletransportamos...
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