Estou inocentemente voltando do cabeleireiro, com tempo a meu ver de me arrumar com esmero para a missa de trigésimo dia do falecimento de minha mãe, onde me encontraria com pessoas queridas e há muito não vistas, após pegar o ônibus, que em minutos nos deixaria em frente à igreja.
Encontro-a esbaforida segurando minha saia para que a vestisse incontinenti e fossemos embora, pois o táxi que a trouxera do Flamengo estava à nossa espera, com o taxímetro ligado,sabe Deus desde quando!
Claro que não deu tempo nem de me olhar no espelho, mas em vez de ter deixado mais nervosa ainda aquela que já estava bem apreensiva e ansiosa, pois iria ler em público palavras do evangelho, magoei-a e contribuí irrisoriamente ao pagamento do táxi, sem nem mesmo ter-lhe antes perguntado a quantia devida.
Faz de conta que peguei minha saia, rindo como sempre quando estamos (estávamos?) juntas, vesti-a do lado do avesso mesmo, entrei no táxi, sem meias, sem pentear o cabelo e segurando um sapato na mão, fazendo-a rir e não se importar com a minha bolsa esquecida lá em cima...
Afinal de contas, era a nossa última saída dessa temporada e precisava ser perfeita. Mas, quem estava pensando nisso naquela hora, embaixo da chuva? Nenhuma das duas. E mamãe nos vendo lá de cima, deve ter balançado a cabeça... Essas duas, uma tendo já completado "quinze primaveras depois de meio século", a outra prestes a perpetrá-lo, e ainda, às vezes, como naqueles momentos, sem a lucidez necessária, quase que se engalfinham com palavras, para a surpresa do taxista!
Faz de conta que paguei o táxi, e saímos dele, abraçadas e emocionadas pelo motivo que ali nos levaram, e porque era a derradeira saída de duas irmãs que se querem muito e precisam uma da outra, como toda mulher necessita de amigas verdadeiras.
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