Gran finale - Angela Delgado
30 de abril
30 de abril
Nunca tive senso de direção e não seria em outro país que eu o teria.
Como era necessário pegar dois ônibus para ir ao Salão Internacional do
Livro, a incerteza sempre baixava: é aqui, ali, esse, aquele? E se eu não
memorizava os pontos de ônibus, muito menos diferenciaria rostos rosados pelo
frio de motoristas e agentes de trânsito.
- Bonjour, s´il vous plaît, pour aller au Palexpo,
l´arrêt du bus c´est ici, monsieur ?
(Bom-dia, por favor, para se ir ao Palexpo, o
ponto de ônibus é esse?)
- Oui,
madame !
1 de maio
- Bonjour, s´il vous plaît, ce
bus-ci m´amenera-t-il au
Palexpo?
( Bom-dia, por favor, esse ônibus me levará ao Palexpo?)
( Bom-dia, por favor, esse ônibus me levará ao Palexpo?)
- Comme hier, madame !
respondeu sorrindo.
(Como ontem, senhora!)
O evento do Varal do Brasil na Feira Internacional de livros em Genebra
só não foi melhor porque apanhei uma gripe que me deu até febre. A
organizadora, muito atenciosa e os demais escritores igualmente simpáticos,
música e livros interessantes.
Em Genebra, os hotéis oferecem a seus hóspedes um cartão que permite o
acesso gratuito a ônibus e tramways, durante todo o período da estada.
Em Paris, entre voltar ao Louvre ou ao Quai d´Orsay, optei por estar com uma amiga, que não via há mais tempo do que os museus e que recentemente se casara com um francês. Após a curta estada parisiense, fui ao
encontro de minha irmã que mora na Inglaterra. A travessia no trem-bala foi um
pouco decepcionante para quem achava que vislumbraria o Canal da Mancha e, "tchum", mergulharia. Não deu nem para vê-lo. O Euro túnel, na realidade são dois: um
para ir e outro para voltar. Trata-se de cinquenta e um quilômetros construídos
no subsolo, a cinquenta metros abaixo do leito do mar. Na ida, não houve nenhum
aviso. Por acaso, vi pela janela uma plaquinha que passou "voando": Euro Tunnel. Mas, como, sem ao menos um sonoro Welcome to England? Na volta, os
franceses anunciam a proximidade do famoso túnel, para os ingleses agora banal.
Na estação de Diss, fui resgatada por minha irmã e seu marido inglês, ambos muito queridos. Fomos
para Pulham St Mary, um município encantador, onde fiquei oito dias, indo
passear pelos arredores. Voltamos a Diss, onde fomos a um parque e a um Pub,
naturalmente; Harleston, onde jantamos em um restaurante indiano, no qual minha irmã quase morre ao mastigar uma pimenta genuína; Norwich, a capital do condado de Norfolk; Southwold, uma pequena cidade à beira-mar no condado de Suffolk, onde a chuva nos pegou e só não foi um sufoco, porque estávamos prevenidos; Cambridge com seus Colleges seculares e alunos famosos, como Isaac Newton, "Qui genus humanum ingenio superavit" e barcos, como gôndolas de Veneza transportando turistas pelo rio Cam, que deu origem ao nome da cidade; Abingdon, cidade no condado de Oxfordshire, à beira do Tâmisa e Oxford com com seus quadros de Van Dyke e Caravaggio entre inúmeros outros e suas universidades igualmente centenárias e célebres alunos.
Enfim, sem me restringir a Londres, percorremos grande parte do vasto , verde e florido Countryside.
Enfim, sem me restringir a Londres, percorremos grande parte do vasto , verde e florido Countryside.
Isso tudo, para mim, que nunca viajara sozinha, além de um prazer, foi
uma vitória pessoal e um exercício para os neurônios. Venci meus medos, tomei
as inúmeras providências e tout s´est bien passé.
Aqui me lembro de uma canção do Sacha Distel, narrando o telefonema
entre Madame la Marquise e seu mordomo, que lhe assegura que tudo vai muito
bem, exceto que o jumento de Madame la Marquise morrera em um incêndio em seu
castelo. Daí se intensificam as pequenas desgraças, sempre intercaladas com o
refrão à part ça, tout va très bien, até
cumular com a notícia da morte do marido de Madame la Marquise.
Felizmente nada de tão grave aconteceu no gran finale de
minha viagem, exceto que, ao chegar em Brasília, querendo poupar o marido de
uma ida até ao aeroporto, peguei um taxi para casa, onde, após ter pago a
corrida e o taxi ter-se ido, reparei, horrorizada, que a mala que trouxera não
era a minha!
Afonso estava mesmo predestinado a ir ao aeroporto nesse dia...
Retornando com a mala extraviada, encontramos logo uma mulher que veio ao meu
encontro fazendo perguntas, dizendo, esclarecendo que o marido dela estava com
a minha mala, a qual havia sido devidamente protegida com o celofane rosa, como
a de seu marido, motivo do quiproquó. Abracei-a pedindo mil desculpas e coisa e
tal. Tenho que confessar que eu é que me apossara primeiro da mala errada, pois
me lembro que fora a primeira a aparecer na esteira, o que me deixara bem
contente, em minha ingenuidade do que viria pela frente.
E enquanto, inocentemente, eu me
dirigia para casa com uma mala contendo, supostamente, roupas masculinas em vez dos perfumes
que eu comprara, minha mala rodava solitária pela esteira, o que suscitara o
interesse do segundo personagem deste drama, que dela se apoderou, certamente
com um faro detetivesco a perscrutar algum nome ou endereço.
Sorte minha ter
isso acontecido em Brasília e não nos países por onde eu pervagara; sorte maior
eu morar relativamente perto do aeroporto e sorte com letra maiúscula o fato de
que eu não “perdera tempo” no Freeshop, o que fatalmente faria com que o
personagem secundário desse drama perdesse a conexão para o Rio e sua cabeça, o
que talvez fizesse com que eu tivesse o mesmo destino do marquês.
Se algum dia
eu proteger minha mala novamente, vou querer uma cor exclusiva!
Angela,
ResponderExcluirQuantas aventuras! Que bom vc ter visto sua irmã, ter passeado com sua amiga, ter descoberto que consegue viajar sozinha para o exterior. Ainda farei isso.
Bem-vinda à nossa capital quente e seca.
Luci
Quando se fala a língua do país é mais fácil...
ResponderExcluirObrigada pela visita, querida!