Mantenho
correspondência por e-mail com algumas pessoas que moram fora de Porto Alegre e
fora do Brasil. Não há um único e-mail, de ida ou de volta, em que não se fale
rapidamente do tempo. “Aqui está um calor dos infernos.” “Pois aqui choveu o
dia inteiro e refrescou.”
Uma conversa
mundana que eu achava típica de pessoas mundanas como eu, mas quando li o livro
que traz as cartas que Clarice Lispector trocava com alguns de seus amigos,
reparei que 90% delas também continham observações meteorológicas. Por mais
filosófico ou intelectual que fosse o teor da carta, sempre havia um momento
para falar do sol ou do nublado lá fora.
Fico
pensando o que significa isso. Que me importa se em Paris está chovendo ou se
no Rio faz 42 graus à sombra, já que não estou de passagem marcada para lá? O
que importa para meus amigos forasteiros se em Porto Alegre choveu muito em
2012? Todos os dias chove ou faz sol, está frio ou quente, úmido ou seco, e a
cada manhã isso nos parece um fenômeno sobrenatural e espantoso.
Creio que
compartilhar as condições climáticas do lugar em que se está é um recurso de
aproximação. É uma maneira de nos situar geograficamente, de preparar um
cenário “visível” para quem não está nos enxergando. Lá no hemisfério norte a
pessoa está encarangada, congelada, e no entanto pode nos imaginar bronzeadas e
suando, vestindo uma leve blusinha de alças. E talvez seja também uma maneira
de justificar nosso humor: temos nossas próprias variações de temperatura, somos
pessoas nubladas ou ensolaradas, gélidas ou quentes. A meteorologia nos
influencia tanto quanto a posição dos astros, e se não estamos muito pra
conversa, vai ver é porque tem uma ventania lá fora que está perturbando por
dentro também.
Não sei se
você está lendo este texto na beira da praia ou embrulhado num cobertor. Não
sei onde você está. Não sei se há um temporal se armando ou se está um daqueles
dias cinzentos que provocam melancolia na gente. Se eu soubesse, talvez
soubesse um pouco de você. É um mistério que a natureza não explica: nossa
necessidade de localizar o outro climaticamente. Relutamos em perguntar: você
está deprimido hoje? chorando muito? com vontade de cometer uma loucura? Com saudades
de alguém? Em vez disso, é tão mais fácil: como é que está o tempo aí?
Aqui, agora,
chove, mas acho que vai abrir.
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