Assim como
qualquer mortal, eu também esquento a cabeça com questões de difícil
praticidade. Teorizar é moleza, mas como agir do mesmo modo que essas
supermulheres que a gente vê nas revistas e jornais, sempre bem resolvidas?
Você acha que eu sei? Sei nada.
Também me desgasto com assuntos
mundanos, aqueles que nos atormentam dia e noite: sinto ciúmes, me constranjo
ao negar convites, às vezes acho que sou severa demais com minhas filhas, às
vezes severa de menos, não consigo ser tão solícita quanto gostaria, me sinto
desatualizada em relação a tanta coisa, não sei direito a direção para a qual
conduzir minha vida, enfim, coisinhas que nos roubam algumas horas preciosas de
sono.
Como não faço terapia e não posso
perder nem um minuto precioso de sono, já que normalmente durmo pouco, resolvi
procurar um método pessoal para relativizar meus pequenos grilos cotidianos. E
encontrei um que pode parecer macabro, mas está funcionando. Quando estou muito
preocupada com alguma coisa, penso: eu vou morrer.
Óbvio que vou morrer, todo mundo
sabe que vai morrer um dia, mas a gente evita pensar nesse assunto
desagradável. No entanto, tenho pensado na morte não como uma tragédia, mas
como um recurso para desencanar dos problemas, e então a morte se torna um ulalá,
um paliativo: daqui a quarenta anos, mais ou menos, eu não vou estar mais aqui.
O que são quarenta anos? Um flash. Todas as minhas preocupações desaparecerão. Nada
do que sinto ou penso permanecerá, ao menos para mim mesmo – o que as pessoas
lembrarem de mim será de responsabilidade delas. Eu vou evaporar. Sumir.
Escafeder-me. Então pra que me preocupar com bobagem?
Diante da morte, tudo é bobagem.
Recapitulando os exemplos dados no segundo paragrafo: ciúmes? Ouvi bem: ciúmes?
De quem, para quê, se todos irão pra baixo da terra e ninguém sobreviverá para
cantar vitória? Aproveite os momentos que você tem hoje – hoje! – para desfrutar
seus prazeres e não pense em perdas e ganhos, isso não existe, é pura ilusão.
Os filhos nos amam, mas fatalmente
reclamarão de nós um dia, não importa o quão bacana fomos com eles. Ser 100%
solícita é coisa para Madre Teresa. Atualização pode ser importante para o
trabalho, mas nem sempre para nosso bem- estar. E, finalmente, seja qual for a
direção que você der à sua vida, o que importa é que ela seja satisfatória hoje
(repito a palavra mágica – hoje!) porque daqui a pouco você e suas preocupações
virarão poeira. Até Ivete Sangalo vai virar poeira.
Importantíssimo (me descuidei, deveria
ter colocado esse último parágrafo lá no início, mas já que vou morrer,
dane-se): se você tem menos de quarenta anos, desconsidere todas as linhas
dessa crônica. Leve seu nascimento a sério. Antes dos quarenta, ninguém vai
morrer. Essa é a ordem natural do pensamento humano. Pague seus impostos,
preocupe-se com a direção que sua vida está tomando, morra de ciúmes, dê-se o direito
de todas as cenas passionais que incrementam seu script: mão se entregue ao
fatalismo. Honre o primeiro ato dessa encenação chamada vida.
Porém, depois dos quarenta, apenas
divirta-se e não perca tempo se preocupando com bobagens. Vai dar em nada.