Li uma ótima entrevista dada pelo médico Dráuzio Varella à
revista Marie Claire, não lembro
exatamente em que edição. Disse ele na entrevista que a gente tem um nível de
exigência absurdo em relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê
certo, e que às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um
dia inteiro de cara amarrada. E aí ele deu um exemplo trivial, que acontece
todo dia na vida da gente. É quando um vizinho estaciona o carro muito
encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do
shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e
tratar de sua vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu
dia.
Acho que
essa história de dois carros alinhados, impedindo a abertura da porta do
motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e a
de outra, pior. Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos,
mas não entende por que eles parecem ser mais felizes. Será que nada dá errado
pra eles? Dá aos montes. Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez
ou outra, não faz a menor diferença.
O que
não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote. Que
audácia contrariá-los! São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de
emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato. Alguém aí falou em
complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles.
Eu entro
muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também. É incômodo, tem um
freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solúvel. E como este, a
maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho. Basta um
telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas. Um deixar barato. Eu ando deixando
de graça, pra ser sincera. 24 horas têm sido pouco pra tudo o que eu tenho que
fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorada, Se eu
procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e gente idem, pilhas de
pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a porta do lado e vou tratar do
que é importante de fato. Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o
elixir do bom humor, a razão por que parece que tão pouca coisa na vida dos
outros dá errada.
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