Esquecimentos
Tendo aderido à idéia do site http://www.livrolivre.art.br, comecei a libertar alguns dos meus livros. O primeiro deles foi “esquecido” em uma confeitaria.
No dia seguinte, lá voltando e estando na fila do pão, uma das caixas saiu de seu posto e veio ao meu encontro dizendo ter me reconhecido pela foto e que adorara o livro que havia encontrado em uma das mesinhas externas da padaria. Logo, um senhor à ela se juntou, querendo também um livro.
O que ando “esquecendo” propositadamente leva a seguinte etiqueta:
"Leia este livro, envie um comentário à angelaottoni@gmail.com e “esqueça-o” em algum lugar movimentado para que outros façam o mesmo.
Obrigada e bom divertimento!"
Acomodada no avião com destino ao Rio, vejo que ao meu lado está uma senhora folheando a revista de bordo. Achei que, pela idade avançada, não seria leitora contumaz. Suspeitei que a outra no assento junto ao corredor, também não e, para eu deixar de ser preconceituosa, ela sacou um livro da bolsa e leu o tempo inteiro da viagem. Com a esperança de que também folheasse a revista da Gol, coloquei, dissimuladamente, meu livro atrás da bendita revista, em frente ao seu assento. Infelizmente, ela não interrompeu a sua leitura. Lembrei-me dos escritores, um produtivo, outro, atormentado, de um livro do Calvino, onde o atormentado observa com binóculo uma leitora compenetrada e pensando que ela talvez estivesse lendo algo do escritor produtivo, a quem inveja um pouco, resolve escrever o próximo como este o faria, para deixá-la hipnotizada, como a vê agora. Um pouco mais tarde, o produtivo igualmente observa a leitora concentrada e, imaginando que estivesse lendo um livro do atormentado, a quem admira, e, cobiçando o mesmo interesse, resolve escrever no estilo deste...
Desculpe-me, mas o resto da história vocês a encontram em Se um viajante em uma noite de inverno.
No restaurante, “esqueço” (como tenho andado esquecida ultimamente!) outro livro e saímos apressadamente, antes que alguém nos alcançasse para devolvê-lo.
Quando íamos entrando no táxi, aparece a solícita atendente do restaurante com o livro na mão... A Musa, a par do meu estratagema, retruca que era para ela...
Atinjo o meu objetivo e nos divertimos.
“Eu fiz tudo pra você gostar de mim, Menina vai, com jeito vai, se não um dia a casa cai, Alalaô, oooô, ooô, Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é, será que ele é?”
Essa é, às vésperas do carnaval, a música ambiente do Posto 6, em Copacabana, de onde saio agora.
E chega o momento de deixar a cidade.
À espera da chamada final, ouvi pelo alto falante um pedido para que a Senhora Angela Delgado se dirigisse ao portão de embarque. Logo entendi que iria reaver o “esquecimento” no balcão do check-in, recupero-o e pouco depois o deposito em frente ao assento junto ao corredor, onde se instalaria um cavalheiro e seu netbook...
Saudades da leitora da ida! Enquanto o meu vizinho ao fechar o computador folheia a revista da Gol, saco caneta e folha de papel, para registrar seus movimentos, tal qual uma detetive. Meu livro permanece invisível e com a aproximação de Brasília, percebo o erro: o título do livro não ficara à mostra.
A exemplo de Joãozinho marcando o caminho com pedrinhas, serei uma Mariazinha deixando livros em meu rastro.
Ângela,
ResponderExcluirNão sou muito de comentário. Apenas quero dizer que estive aqui e a visitarei sempre. Vou pegar seu livro na estante e acabar de ler (acredito que todo livro tem sua hora).
Vou colocar o link do seu blog nos meus "Caminhos Literários".
Abraço,
Luci
@Luci Afonso Obrigada pela visita. Faz de conta que tomou um cafezinho com biscoitos. Na próxima, terá opção de cappuccino, chá com leite, suco, vitamina de abacate...
ResponderExcluir