Como mencionei estar lendo, L’Homme qui rit tenho que admitir estar pulando partes, coisa que raramente faço, por não entender porque Victor Hugo se alongou em tantas minúcias sobre a detestável aristocracia inglesa do século XVII e por não aguentar tanta maldade humana, tantos horrores perpetrados em nome de “Sa majesté”. Mas, é um livro difícil de ser interrompido.
Victor Hugo escreveu que "uma excelente maneira de pronunciar os nomes ingleses, é não pronunciá-los. Assim, Southampton, se diz: Stpntn (?). Isso no tempo em que “Chatham” se pronunciava ‘Je t’aime’ ”.
O livro é muito bom e o personagem mais interessante é um médico pobre, misantropo, filósofo e ventríloquo, Ursus, que tinha um lobo chamado Homo, e era proprietário de uma lanterna, de várias perucas, uns poucos utensílios pendurados em pregos, alguns instrumentos musicais e uma pele de urso. Sua casa móvel pertencia a ele e ao lobo Homo.
Ursus "preferia ter um lobo como animal de carga, pois considerava muito o jumento para isso. Além disso, havia notado que o jumento, pensador de quatro patas pouco compreendido pelos homens, tinha às vezes um inquietante arquear das orelhas, quando os filósofos diziam bobagens."
"... Somos todos cegos. O avaro é um cego; vê o ouro e não vê a riqueza. O pródigo é um cego; vê o começo e não vê o fim. O homem honesto é cego; não vê o canalha. O canalha é cego; não vê Deus. Deus é cego; no dia em que criou o mundo, não viu que o diabo se meteu dentro. Eu sou um cego; falo e não vejo que vocês são surdos."
Parece que ele era mais curandeiro do que médico, pois um dia foi advertido por uma comissão de médicos:
- Se um doente tratado por você falecer, você será punido com a morte.
Ursus arriscou uma pergunta.
- Se eu curá-lo?
- Nesse caso, suavizando a voz, respondeu o médico, você será punido de morte.
- "C'est peu varié", disse Ursus.
O doutor respondeu:
- Se houver morte, punimos a burrice. Se houver cura, punimos a presunção. Nos dois casos, a forca.
- Ignorava esse detalhe, murmurou Ursus. Agradeço por me informarem. Não se conhece "toutes les beautés" da legislação.
- Tome cuidado.
- Escrupulosamente, disse Ursus.
- Sabemos o que você faz.
- Eu, pensou Ursus, nem sempre o sei.
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