Às vezes acho que o difícil não é chegar lá, o difícil é chegar inteiro, com toda essa carga de pequenas bobagens que tanto nos atrasam. Esses dias cheguei a fazer a lista das principais bobagens que há anos carrego e que tanto me atrasam:
Três carrinhos de madeira, um time de botão completo, um Vinícius de Moraes completo, uma pipa meio rasgada, dois amigos afogados, um bilhete da Lurdinha, o cachorro amarelo que o ônibus pegou, meu primeiro boletim, pedras de um rio que nem existe mais, um catecismo, um estilingue.
Às vezes quero sinceramente juntar tudo e andar mais rápido, Mas é uma luta. Um dia é a roda do carrinho que se vai, outro não tem vento para a pipa, ou então é um dos afogados que me acena, o bilhete que briga com o catecismo, o beque central dos botões que se extravia, ou o Vinícius que sai a bulir com as moças.
Com tudo isso sei que me atraso. Os amigos vão passando, ligeirinhos, a pé, de bicicleta, alguns já de carro, um que outro até pergunta, bronqueado. “Qual é, meu?”
E eu ali, tarde da vida, me juntando todo. Claro que um dia espero chegar, e inteiro se Deus quiser.
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