Primeiramente, temi não acordar às quatro da manhã. De fato, o alarme do meu delicado celular soou tão baixinho que se não estivesse de pé, desde às três e quarenta e cinco, talvez ele não tivesse me despertado.
Depois, o avião estava tão vazio, que, para equilibrar seu peso, os passageiros das primeiras poltronas, onde eu me encontrava, tiveram que se espalhar ao longo da aeronave e, aí, foi só eu fechar o livro para derramar lágrimas copiosas (por sorte, não havia ninguém em um raio de sete fileiras), lembrando do meu pai que aniversariava exatamente em um dia vinte e três de setembro, dia de minha viagem. Agradeci-lhe mentalmente por mais esse presente, ou seja, a viagem proporcionada pelo que ele me deixara.
Para não ir chorando de Brasília ao Rio, achei melhor escrever. O périplo pela Grécia e Itália prometia, já que meus companheiros eram hilários e bem-humorados, além de possuírem outras qualidades. Uma das primeiras risadas acontecera ao saber que uma determinada cidadã costuma levar em sua bagagem roupas velhas, inclusive a camuflada sob um casacão, e vai largando-as pelos hotéis.
A princípio me empolguei. Desfazer-me de calças e blusas já com seus quilômetros rodados seria uma boa ideia.Sobraria espaço nas malas. Mas, talvez eu prescindisse disso. Afinal, o que um amigo me dissera era que eu teria excesso de bagagem existencial.
De qualquer modo, não teria desapego para abandonar junto às ruínas gregas e romanas uma camisola com sua história. Mas, lá deixaria meus óculos de grau, em seguida, o recém adquirido que o substituíra; o Fon (travesseirinho de viagem, que também quis ficar pelo caminho; o leque grego que se recusou a deixar seu país e, por fim, quase que eu mesma ia ficando por lá, ao pegar a última lancha que me levaria de volta, de Mykonos ao navio, quando ela estava prestes a zarpar.
Aproximando-me pela primeira vez de uma terra onde já não tinha mais nem pai nem mãe (minha primeira escala nesse périplo) voltaram as lágrimas. Melhor seria negligenciar a paisagem.
Perdas e ganhos, formações e transformações...é o estofo da vida, feita de idas e vindas, de tantas e tantas viagens, algumas tântricas, outras nem tanto. Malas que enchemos cada vez menos, corações que preenchemos cada vez mais. Melhor jamais negligenciar...as boas lembranças.
ResponderExcluirKaliméra(Bom-dia em grego, Helcio,
ResponderExcluirQue bom "vê-lo" aqui de novo! Mas, no avião, como era a primeira vez que voltava à Terrinha depois do falecimento de minha mãe (achava que não pisaria lá por um bom tempo), a paisagem foi de cortar o coração. Nem pude vislumbrar Niterói, por causa da visão embaçada. As boas lembranças, porém, jamais serão esquecidas.
Um abraço.
Querida Angela,
ResponderExcluircá está o amigo que disse que você voltaria da Grécia com excesso de bagagem existencial. Faltou dizer que excesso de bagagem existencial você leva para onde quer quer viaje.
Abs,
Tarlei
PSiu: Releve tão breves aparições. Tenho dito que, embora disponha na tela quase tudo que escrevo, eu mesmo não sou bom "teleitor". Faço visitas beija-flores...
Fiquei contente em vê-lo aqui! Principalmente, porque sei que você ainda é um raro "teleitor". Quem sabe, isso mude...
ResponderExcluirEspero que tenha conseguido ouvir a música.
Um abraço.