Pulverizo WD-40
no basculante do banheiro, mas nada acontece. Deixo-o por mais meia hora e tenho
que arrematar o serviço com o martelo de borracha. Finalmente,
consigo fechar a janela. Ganho o dia, porque o que me levara a remediar a situação
fora ter visto, logo ao acordar, uma barata na parede do banheiro. O inseto veio de fora, pois a casa foi dedetizada há pouco - como dissera o
marido -, então, enquanto ele está às voltas com o bacalhau na cozinha, resolvi fechar na marra a janela, há anos impossível de ser fechada.
Nesse dia obteria
mais uma vitória: o neto, inusitadamente, não conseguira trocar a música do
meu blog, e eu só dormi depois de triunfar: ufa, consegui!
Assim, enquanto
o “chef" coleciona quitutes, vou somando o que, pelo menos para mim, são
pequenas vitórias gratificantes. É um baita preconceito achar que é coisa de
homem tentar consertar fechadura; pegar em alicate e martelo; resolver um
problema na cerca... Não que eu goste especialmente desses afazeres. Do que
gosto é de consertar coisas, sejam lá o que forem. E claro que enveredei por
esse lado por estar a cozinha ocupada...
Mas por que escrevo isso? Porque também me apraz escrever e por causa do conselho de uma amiga escritora:
“Não se preocupe
com o pecado das letras e nem com a militar formação das frases. Escreva. Não
busque os olhos críticos, tente encontrar os corações. Esqueça os títulos e as
graduações. Escreva. Rime e brinque, crie, invente, seja poesia e faça poemas
de vida. Escreva. Conte o seu dia, o momento do amigo, a saudade do pai.
Escreva. Crie personagens, dê-lhes vida, conte histórias. Escreva. Mostre. O
perigo não está em alguém não gostar do que escreveu, nem no estilo, nem
nos erros. O perigo está em você não deixar livre sua alma, está em se
preocupar com o que os outros fazem, em pensar que existe melhor ou pior.
Escreva. Seja você em cada linha, seja cada palavra, viva tudo o que escrever,
seja na vida ou na imaginação. Viva. Escreva...”
Então, aqui
estou para contar que, em minha caminhada, cumprimento com um bom-dia a mulher
que cruza meu caminho, mas que não responde. Será que é surda ou, não sendo
exatamente a coisa mais linda, mais cheia de graça, que vem e que passa, está se
perguntando por que a “magrela” que sou está se exercitando. Esse é o ser
humano invejoso. Mas, será que é apenas aérea e sua mente está alhures, e sou
eu o ser humano que julga?
No dia
seguinte, indo num doce balanço, a caminho de casa, eis que à frente vem um cidadão.
Como meu neto, com seu talento teatral, costuma exagerar dizendo que não paro
em Posto de gasolina à noite, com medo de ser assaltada, sequestrada,
violentada e morta, cogito em atravessar a rua, porém a calçada sombreada do lado de cá foi mais forte, e ouço do indivíduo um sorridente bom-dia! É o ser humano que
também pode surpreender.
Mariazinha é outro exemplo disso: Trabalhara para minha mãe, igualmente
Maria, durante 40 anos e depois continuou a servir aos filhos de D.Maria, ao
mesmo tempo em que plantara uma semente de amendoeira em sua casa, planejando se
aposentar, quando a árvore crescesse o suficiente para que ela pudesse ler sob
sua sombra!
Um dia, não muito belo, o aviso foi dado da
maneira mais pitoresca e eufemística possível: A árvore estava dando sombra...
Embora tenha eu sugerido, em tom de brincadeira, que ela fosse urgentemente podada,
para que não se perdesse a Mariazinha, fiquei encantada com seu gosto pela leitura e lhe enviei alguns livros, para o seu mais do que merecido descanso.
Embora tenha eu sugerido, em tom de brincadeira, que ela fosse urgentemente podada,
para que não se perdesse a Mariazinha, fiquei encantada com seu gosto pela leitura e lhe enviei alguns livros, para o seu mais do que merecido descanso.
Lembro-me
agora de outro modo de se transmitir a má notícia, bem sui generis: Seu animal de estimação morreu no telhado, no
incêndio, involuntariamente provocado pelo desespero de seu marido, que,
vendo-se arruinado financeiramente, se suicidou.
E uma cronista incrível, que estava me alegrando diariamente com seus textos, anuncia, de supetão, sua derradeira postagem, sem ao menos ter proclamado a subida do "gato ao telhado"...
E uma cronista incrível, que estava me alegrando diariamente com seus textos, anuncia, de supetão, sua derradeira postagem, sem ao menos ter proclamado a subida do "gato ao telhado"...
Delícia de crônica, Ângela. A parte a menção ao monstro que não posso admitir nem a escrita do nome, Arranja outro motivo para a martelação do basculante do banheiro mas não menciona este inseto horrível. Adorei o conselho de sua amiga: escreva! No mais inveja do bacalhau. Um marido que sabe preparar bacalhau é coisa rara e preciosa, Estas pequenas vitórias e êxitos do dia-a-dia são importantíssimas na vida. Eu ontem consegui consertar minha impressora e até telefonei para meus filhos para contar, Não ficaram impressionados nem um pouco o que demonstra uma ausência de sensibilidade que me desgostou. Hoje vou contar para minhas netas. Quem sabe puxaram mim! Eu avisei, sim, que o gato iria subir no telhado quando iniciei a publicação das crônicas. Embora você assim não julgue eu não sou cronista. Sou só uma falastrona que escreve o que fala, o que, segundo minha avó é um perigo porque "as palavras vão e os escritos ficam". Ainda ás voltas com a festa de 15 anos de minha bela neta Maria Clara. Agora é a decoração do salão e a discussão com o filho (que é pai e mãe) e que acha um absurdo o que eu estou fazendo. Chegou ao disparate de dizer que eu não fiz festa de 15 anos para ele!!! Caramba! Uma cobrança de 37 anos.
ResponderExcluirQuerida "Falastrona",
ResponderExcluirClaro que seus filhos não se impressionariam com o fato de você consertar a impressora.Ora, uma analista de sistemas e isso, desde décadas atrás, tem a sua genialidade reconhecida há muito tempo. E ainda bem que os escritos ficam, assim tenho um tesouro no meu notebook e até impresso. Quanto ao seu filho, apesar de achar que ele estava brincando, que meninos de 15 anos, geralmente preferem uma bola de futebol. Não estão nem aí para "debutar". Hoje em dia, só querem saber de joguinhos eletrônicos, enquanto as meninas amadurecem mais rápido. Sábado, meu neto, que já fez curso de dança de salão, foi à uma festa e dançou com todas as meninas, além de dançar com a mãe da aniversariante, que também fez 17 anos. Que a sua festa seja também ótima. Um beijo na linda Maria Clara e outro em você.
Que textos gostosos, o seu, o da Jacqueline e o da Anna Maria! Uma barata pra motivar, uma sombra pra ler e descansar, o dia de hoje pra curtir. Adorei a visita.
ResponderExcluirLuci, a Anna Maria é uma cronista de primeira! Pena que já parou de postar em seu blog www.vaidaiquemsabe.blogspot.com
ResponderExcluirMas, acho que durante um bom tempo, ainda se pode acessá-lo. Ali há conteúdo para um excelente livro. Também adorei seu comentário!