Filha
Casada, com problemas em seu telefone, colocou o meu no jornal em um anúncio à
procura de uma babá.
Foram quase
200 telefonemas em apenas dois dias, em que houve de tudo: chamadas a cobrar; ligações em que fui
tratada por gatinha; minha linda, até uma candidata que falava francês! Esta
assustou-me, fazendo-me suspeitar de que fizesse parte de uma rede internacional
de sequestradores. Não. Apenas trabalhara quatro anos na França, tomando conta
de uma criança ou seja, na qualidade de"au pair", como dizem os franceses.
Não podia
me concentrar no computador ou fazer café, e muito menos tomá-lo.
As
Adrianas, Alines, Anízias, Catarinas, Geovanas, Jocileides, Josélias, Luísas,
Marinas, Marias, Osanas, Roses, Selmas, não me deixaram sentir solidão.
Apresentaram-se,
prometeram voltar, mas não o fizeram, talvez amedrontadas pelas crianças: três mosqueteiros
e uma princesa, de brinde.
Nesse ínterim,
Filha Antropóloga passara no concurso para o Ministério da Educação e precisava
apresentar seus títulos que se resumiam a um, já que ainda não havia concluído
o mestrado.
Estando ela
em outra cidade, coube-me telefonar para requerer a declaração atestando que
ela trabalhara, durante dois anos, como professora da Fundação, o que lhe
adicionaria oito pontos em seu resultado. Declaração para amanhã? Impossível.
Terei que entregar mais de quinhentas.
...............................................................
Mas, mãe, já a pedi há meses! Deve estar pronta.
Às oito da
manhã, estaciono no estacionamento ainda vazio, que bom, só que declarações eram
entregues a partir das dez horas.
Volto às
dez. Em que mês sua filha fez o pedido? Vocês não arquivam por ordem alfabética?
Não, pelo mês da requisição.
Não tenho
como falar com a Filha Requerente e preciso do papel para ontem. Por sorte, a
funcionária, em menos de dez minutos, achara a declaração.
Saí exultante. Agora restava
apenas reconhecer firma, tirar xerox e enviá-la pelos Correios. No cartório,
algum corretor, à espera de sua cliente que não chegava, trocara sua senha pela
minha; ganhei mais alguns minutos em minha corrida contra o tempo. Que menina
sortuda essa Filha Antropóloga. Mas aí Deus achou que já havia me concedido
muito. A máquina de xerox não estava funcionando e o Sedex não poderia entregar
o envelope no dia seguinte, pois era feriado. Ao lado, uma loja transportadora
de cargas expressas o faria, porém mediante quantia tão exorbitante, que
retruquei: Por esse preço, pego o avião e levo pessoalmente.
Solução:
Filha Antropóloga, via fax, me passou uma procuração.
Só não
entendi por que para obter a declaração, não me fora requisitada a carteira de
identidade se para entregá-la, além da carteira de identidade, era preciso
uma procuração.
De
curiosidade em curiosidade, finalizo com o fato de minha “maturidade” ter
achado um ótimo meio de saber onde coloquei certos objetos. Por exemplo, um
saquinho bem pequeno de plástico, que achei ter utilidade futura, foi guardado
na letra “p” da pasta sanfonada de documentos, e me divirto comigo mesma,
constatando a hilaridade da faixa etária.
O que será que ainda vai parar nessa pasta? Celular e
chaves na letra “c”, óculos no “o” e assim por diante.
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