Extratos de um depoimento traduzido de Nos 20 prochaines années de Christian Gatard (obrigada, Celinha!)
"Li esta manhã no jornal que estudantes da universidade de Hertfordshire mediram a velocidade dos passos dos pedestres em trinta e duas grandes cidades. A conclusão deles? A maioria hoje anda 10% mais rápido do que há dez anos.
Esta estatística mostra muito bem como pode ser a vida em uma cidade grande no século XXI: sobretudo não caminhar sem destino, mas atingir o seu objetivo o mais rápido possível. Mais de uma vez, eu mesma me surpreendi andando rápido, ultrapassando sem pudor os pedestres mais lentos, enquanto que nada me apressava realmente, simplesmente por hábito, para me conformar à trepidação ambiente, dependente do meu próprio ritmo, tendo a impressão de perder escandalosamente o meu tempo se eu esmorecesse. Quando dou por mim, me acho um pouco lastimável... mas continuo. É assim. Até em uma cidade desconhecida, onde estava de passagem, andar depressa era uma maneira de não passar por uma turista, de se fundir na vida da cidade. Absurdo? Com certeza. Também não é impossível que eu tenha adquirido esse hábito, para me precaver de pessoas, que se postam a pouca distância do pedestre que vagueia, e mais ainda da pedestre, sendo perambular frequentemente considerado como um sinal de disponibilidade. Hipótese feminista: quando se é uma jovem mulher, apressar o passo é garantir a sua tranquilidade. Os estudantes mediram a velocidade média do andar das mulheres e a do ritmo dos homens? Ignoro, mas poderia ser um dado interessante.
… O recurso mais raro seguramente não é o petróleo, nem a água, nem mesmo a inteligência ou a sabedoria. Juntos ou individualmente, temos tudo isso, podemos ter acesso à energia das estrelas, modificar nossos comportamentos e inventar novas formas de solidariedade, regular o relógio biológico, tornar-nos bicentenários e prender o gás carbônico no fundo da Terra. O único recurso que irá nos faltar é o tempo.
A imagem da encruzilhada situa-se no cerne do transculturalismo. É na encruzilhada que o transculturalismo começou. A encruzilhada – aquela primeira encruzilhada, na saída da aldeia – era a passagem obrigatória para a descoberta de outro e do mundo. Ela encarnava uma forma de renúncia: renúncia à tribo e ao solo natal. A primeira encruzilhada é o primeiro passo para a aventura. Na encruzilhada começa a hibridação de si. Primeiros passos para o transculturalismo que é uma fábrica de laços sociais, de conciliações culturais, de trocas. Na encruzilhada, a vida bifurca, e é preciso escolher uma via. Poderíamos também escrever: a via bifurca, é preciso escolher uma vida."
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