No princípio, era só uma terra árdua,
de serventia alguma. Uma terra sem promessas, que se negava ao ofício de
fazer-se berço.
Havia, no horizonte, um cinza intenso
igualando chão e céu. Uma conformação, um abandono, uma sina cansada de abortar
vontades. Uma esperança esterilizada a pontapés e tapas, para que não se
atrevesse a vingar pela gota de um esperma traiçoeiro.
E nem semeadura, nem germinação, nem
colheita aconteciam àquela terra árdua. Era tudo... um nada.
Mas, um dia, aquela terra seca
contorceu-se.
Alguém a penetrava em sussurros, em
cócegas dedilhadas. Alguém a revolvia, e a umedecia, e a obrigava a raízes que
se agarravam às suas fendas grossas e fundas, e a conduzia a um gozo morno e
aconchegante. Alguém não desistia dela.
E veio, enfim, o verde, tímido tapete
exposto à superfície para sentir o vento. E veio, enfim, a chuva, que atraída
por tanta cor de primavera deitou-se em dengos com aquele mato cheiroso.
E a dor da ceifa verteu-se em descanso, e depois em novo coito, e em seguida em
novo arranque, alimentando ciclos que só se rompem pela colheita da morte.
Seria assim também com os homens — esse
solo árido que ora se acomoda às alienações do fácil, ora segue prisioneiro de
dominações não consentidas —, criaturas impedidas da fertilidade pelos que não
compartilham claridade.
Seria exatamente assim com os homens,
não fossem os que insistem em semear pensamentos, não fossem os que persistem
em aguar reflexões, não fossem os que não abrem mão de colher fruto, flor ou mato
verde.
Seria assim...
Não fossem esses que, benditos, semeiam
a palavra. Que, benditos, regam a luz. Que, benditos, comungam crescimento.
Cinthia Kriemler
Cinthia Kriemler
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