quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O voto decisivo e traiçoeiro - Angela Delgado



Contrariamente à esperança de milhares de brasileiros, Celso de Mello, a quem jamais nos referiremos como o “saudoso ministro”, começou seu pronunciamento tentando, mas não conseguindo, justificar seu voto. Retroagiu aos idos de 1603, 1909, 1980, 1990, porém não chegou ao “aqui e agora”, botando a perder o momento histórico que seria a sua, e apenas sua, grande chance de restaurar a credibilidade do povo na justiça brasileira.
                Tudo se perdeu em artigos, parágrafos, incisos, alíneas, comentados com sorrisos destoantes com o nosso luto.

                Os embargos infringentes tão descabíveis na última e derradeira instância foram quase abolidos há algum tempo, conforme confessou Celso de Mello, acrescentando uma frase proferida pelo jurista Pontes de Miranda: “Muita injustiça se tem afastado com os embargos infringentes, onde o interesse não é individual e sim público.”
              A quem o ministro quer enganar? A injustiça que se fez hoje no STF terá tristes consequências. O Ministro Celso de Mello também foi incongruente ao afirmar que se manifestara contra os embargos infringentes, mas agora ao que demonstrou, involuiu. Se não cabe Habeas Corpus no Supremo, por que cabem embargos infringentes?

O ministro do veto de Minerva concluiu, espichando sua longa fala com referências à competência da corte interamericana, já prevendo o próximo passo de Zé Dirceu.
            Pedindo vênia aos bandidos que estão presos, que se abram as cadeias no país da impunidade!

Sabia que encontraria nas manchetes dos jornais do dia seguinte a palavra "pizza", bastante desgastada, que não expressa com veemência a indignação de um povo. Será que uma expressão mais forte como "Holocausto" ou "Canalhas" seria censurada pelo jornal? Celso de Mello perdeu uma oportunidade de ouro de afastar pessoas nefastas à sociedade. Com a frase "... ministros não podem deixar-se contaminar por juízos paralelos, resultantes de manifestações da opinião popular" se traiu. Ratos nos contaminam, enquanto raios de luz, de sol e o justo clamor da massa nos contagiam. Mas, teremos que esperar só mais um pouco. Eles não escaparão da condenação e se Joaquim Barbosa não entregou a Toga ontem, é porque faz questão de consolidar a merecida condenação.
Detalhe: o livro de  "1968, o que fizemos nós", de Zuenir Ventura, de 2008,  fala que José Dirceu e Celso de Mello dividiram um quarto, ou seja, são amigos de longa data. Daí, a  desculpa jurídica para inocentar o amigo.
O que explica, mas não justifica tamanho antipatriotismo.