segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eu, Tu e Ela (Réplica a uma crônica em que fui mencionada como Ela) - Angela Delgado

Com cuidado para não acordar a companheira de quarto, acende a lanterna por debaixo do lençol e, em uma atividade fantasmagórica, escreve não sobre Ti, mas sobre Itu e seu ledo engano. É em Atenas que tudo é monumental: copos, guardanapos e vistas. Foi onde também teve a maior ilusão de ótica de sua vida: Tendo ouvido de um dos seguranças de que, sem que ele sentisse absolutamente nada e apesar de nossa iminente partida, não poderíamos dar uma olhada no interior do teatro, afastou-se, então. Depois de alguns instantes, virou-se e vendo o segurança acenar, achou que ele havia mudado de ideia e reconsiderado o pedido negado pouco antes. Ato contínuo, mergulhou por debaixo do cordão isolante, fazendo sinal ao grupo, querendo significar que o caminho estava liberado. Foi o que bastou para que um terceiro segurança acorresse, com receio, talvez, de um bando com bombas e a intimasse a sair dali. Havia sido um ledo engano, mas, em seu desenlace, ninguém saiu ferido. Em tempos de superlativos, porém, foi a noite mais curta de sua vida, pois tendo que acordar às seis horas, pagou por todos os seus pecados, escrevendo até às três horas da madrugada, enquanto os demais se entregavam aos braços de Morfeu. Felizmente o episódio dramático-policial ocorreu com Ela e não com sua companheira Euclídia, sua mochila e seu casacão nos braços, com os quais, numa curva em seu percurso, varreu uma das estantes de uma loja de bibelôs, fazendo com que seu proprietário bradasse por "voitiha" (socorro), gritando haver uma vândala por aquelas paragens! Moral da história: todo cuidado é pouco com viajantes maiores de vinte anos, mais vinte, mais vinte, sob o risco de serem presos por um ledo engano. E agora Ela espera que Tu voltes a chamá-la, carinhosamente, de Angelita.

0 comentários:

Postar um comentário

Seu comentário aguardará moderação