quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Alta ajuda - Tarlei Martins


Li em algum lugar que a filosofia é uma espécie de auto desajuda. É que a filosofia não facilita nada. Não tenho a menor atração pela dita literatura de autoajuda. Não gosto do excesso de simplificação que é o caminho da autoajuda. Também não gosto do excesso de complicação pelo qual costuma se embrenhar a filosofia – ou certos filósofos. Sou devoto mesmo é da alta ajuda que pode advir da alta literatura. O ser humano é um macaco complexo, como já disse Caetano numa canção. A literatura é um dos mais sofisticados e complexos exercícios de alteridade a que um ser humano, esse macaco complexo, pode se entregar. Porque a verdade é que quase nada sabemos de nós mesmos. A literatura nasce da falta, da falha… Somos cheios de buracos. A literatura é o impulso que leva o homem a querer saber de si – que é um querer saber de todos. Como diz uma canção, “todos nós um nó / todos nós os mesmos”. A literatura é a arte da procura. Quem escreve literatura, quem vai ao fundo de si mesmo, às vezes tem vislumbres de como se tramam os fios do feixe de sentimentos que comanda e sustenta o macaco complexo que somos. Esses vagos clarões sobre a desordem constitutiva dos nossos sentimentos são altamente redentores, humanizadores. A alta literatura propicia o que tão sabiamente disse Guimarães Rosa: “É preciso sentir até tirar as cascas da alma”. É isso que nos salva. Ou nos põe no caminho da salvação. Amém.

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