segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Porta do lado -- Martha Medeiros



Li uma ótima entrevista dada pelo médico Dráuzio Varella à revista Marie Claire, não lembro exatamente em que edição. Disse ele na entrevista que a gente tem um nível de exigência absurdo em relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê certo, e que às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada. E aí ele deu um exemplo trivial, que acontece todo dia na vida da gente. É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar de sua vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.
                Acho que essa história de dois carros alinhados, impedindo a abertura da porta do motorista, é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e a de outra, pior. Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos, mas não entende por que eles parecem ser mais felizes. Será que nada dá errado pra eles? Dá aos montes. Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença.
                O que não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote. Que audácia contrariá-los! São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato. Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles.

                Eu entro muito pela outra porta, e às vezes saio por ela também. É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solúvel. E como este, a maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho. Basta um telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas. Um deixar barato. Eu ando deixando de graça, pra ser sincera. 24 horas têm sido pouco pra tudo o que eu tenho que fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorada, Se eu procurar, vou encontrar dezenas de situações irritantes e gente idem, pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a porta do lado e vou tratar do que é importante de fato. Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do bom humor, a razão por que parece que tão pouca coisa na vida dos outros dá errada.

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