sábado, 23 de abril de 2011

XX


Como mencionei estar lendo, L’Homme qui rit tenho que admitir estar pulando partes, coisa que raramente faço, por não entender porque Victor Hugo se alongou em tantas minúcias sobre a detestável aristocracia inglesa do século XVII e por não aguentar tanta maldade humana, tantos horrores perpetrados em nome de “Sa majesté”. Mas, é um livro difícil de ser interrompido.  
Victor Hugo escreveu que "uma excelente maneira de pronunciar os nomes ingleses, é não pronunciá-los. Assim, Southampton, se diz: Stpntn (?). Isso no tempo em que “Chatham” se pronunciava ‘Je t’aime’ ”.
O livro é muito bom e o personagem mais interessante é um médico pobre, misantropo, filósofo e ventríloquo, Ursus, que tinha um lobo chamado Homo, e era proprietário de uma lanterna, de várias perucas, uns poucos utensílios pendurados em pregos, alguns instrumentos musicais e uma pele de urso. Sua casa móvel pertencia a ele e ao lobo Homo.
Ursus "preferia ter um lobo como animal de carga, pois considerava muito o jumento para isso. Além disso, havia notado que o jumento, pensador de quatro patas pouco compreendido pelos homens, tinha às vezes um inquietante arquear das orelhas, quando os filósofos diziam bobagens."

"... Somos todos cegos. O avaro é um cego; vê o ouro e não vê a riqueza. O pródigo é um cego; vê o começo e não vê o fim. O homem honesto é cego; não vê o canalha. O canalha é cego; não vê Deus. Deus é cego; no dia em que criou o mundo, não viu que o diabo se meteu dentro. Eu sou um cego; falo e não vejo que vocês são surdos."

Parece que ele era mais curandeiro do que médico, pois um dia foi advertido por uma comissão de médicos:
- Se um doente tratado por você falecer, você será punido com a morte.
Ursus arriscou uma pergunta.
- Se eu curá-lo?
- Nesse caso, suavizando a voz, respondeu o médico, você será punido de morte.
- "C'est peu varié", disse Ursus.
O doutor respondeu:
- Se houver morte, punimos a burrice. Se houver cura, punimos a presunção. Nos dois casos,  a forca.
- Ignorava esse detalhe, murmurou Ursus. Agradeço por me informarem. Não se conhece "toutes les beautés" da legislação.
- Tome cuidado.
- Escrupulosamente, disse Ursus.
- Sabemos o que você faz.
- Eu, pensou Ursus, nem sempre o sei.

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