sábado, 28 de maio de 2011


MUSICA CONTRA O CÅNCER
A cientista Márcia Capella do Instituto  de Biofísica  Carlos Chagas Filho, acaba de descobrir que a "Quinta de Beethoven" combate o câncer. Está em "O GLOBO"( 29/-3/2011). Num poema escrito há uns 40 anos tocava nisto a propósito do ensaio de Mario de Andrade sobre "A Terapêutica Musical

                                                          INICIAÇÅO MUSICAL
Todas as manhãs
toco um concerto de flauta e clarineta
para minhas  plantas.
Elas sabem, e esperam
                             - o seu café da manhã.
Minha mulher, melhor que eu,
com a alma aberta na varanda
sabe conversá-las, sabe tangê-las
trocar-lhes as fraldas e o alpiste
com seus olhos em ciranda.

Não é de hoje
que a música cura e ensandece os reis,
Então, não foi assim que Ulisses se curou
dos dentes do javali? Não era assim
que apaziguavam a fúria de Saul
a harpa e o canto do pastor David?

Tal a consabida
estética medicinal
ou homeopatia musical
romântica:
violinos para os hipocondríacos
contrabaixo para os nervos,
a histeria é com a harpa,
a flauta refaz pulmões
trombone contra a surdez,
órgão para os irascíveis,
 trompa para os perseguidos
 e como tônico geral
 meu instrumento de fé
- o oboé.

Ocorreria sangue nos  becos
se à noite aí tocassem Mozart
e o fagote dos barrocos?

-Já se usou um adágio de Corelli
para estancar no ar
o punho torturador?

-Quem jamais matou alguém
numa sala de concertos,
embora a ópera tenha
assassinos no libreto?

Soassem o oboé e a orquestra de Marcello
na mesa do conselho e as tensões
se esvairiam e perdões se abraçariam,
e até flores, do acrílico ambiente, brotariam
soando a escala dos serenos violinos.

Ah, a pureza alucinante do cego Rodrigo
gentil-homem- dedilhando a escuridão
enquanto o Concerto de Aranjuez
me esfacela o coração.

A música expulsa da alma o câncer:
apazigua o mal patrão,
melhora o operário,
faz crescer as colheitas
 e apascenta a criação.

Os que vão se amar um dia, já estão ouvindo acordes
a mesma ária de Bach.

Os que geram filhos, nomes, obras,
crescem com este adágio de Albinoni.
E até mesmo um povo escravo se livraria
se a Nona de Beethoven
lhes  soasse todo dia
a ensinar que é em coro
que se constrói a alegria.
            

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