sábado, 4 de fevereiro de 2012


                            Momentos cariocas

        Estou no Rio e triste como o ramo de uma árvore, cuja raiz está prestes a ser arrancada. Minha mãe, muito querida por todos que a conhecem, com noventa e cinco anos e osteoporose no mais alto grau, quebrou o nariz, o braço, teve hemorragia interna, engoliu sangue a noite inteira, e a bola de neve foi crescendo: foi entubada, teve pneumonia aspirativa, febre, convulsões que a deixou em coma superficial, e, numa segunda fase, traqueostomizada.
        Como só posso ir ao hospital à tarde, no horário de visitas, fui à praia.
        No pequeno ônibus, uma passageira pede ao motorista que pare perto de um canal, antes ou depois do Jardim Botânico; cariocas que somos, todos interagimos: O canal fica antes, depois, na frente, visível daqui, na rua de trás, há dois canais, enfim, quase pedindo ao motorista que diminuísse o ar condicionado, por causa do passageiro que estava espirrando, desço do ônibus relativamente satisfeita com o espírito brasileiro . Na praia, o orgulho de minha nacionalidade cai por terra, ao abrir “O Globo” e ler que “O prefeito de São Paulo ofereceu 4,4 mil metros quadrados ao Instituto Lula! Não acredito que o próprio Lula não vá rejeitar oferta tão descabida em um país que, precisando urgentemente de hospitais e colégios, se dá ao luxo de dispor de uma área para construir um Memorial da Democracia, com acervo público para contar a história dos movimentos sociais brasileiros, oferecendo entrada gratuita para estudantes da rede pública.”  
         Nem se contasse à meninada as roubalheiras dos dólares nas cuecas, meias e bolsas ou a compra de um mega avião e de propriedades riquíssimas, ou dos diversos enriquecimentos ilícitos e demais bandalheiras, seria válido se gastar dinheiro público com um projeto tão fútil.
        Miguel Torga disse um dia “É um fenômeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e se diverte indignado, mas não passa disso. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados.” 
        Somos tal qual o povo português, mas, quem conhece o Kassab, para lhe falar de sua insanidade?
        Aqui faço a minha parte, ou seja, o protesto digitado.

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