quinta-feira, 3 de abril de 2014

Frases de Clarice Lispector (Obrigada, Geo, pelo empréstimo do livro!)

"... Cercas delimitando cantos que não seriam cantos se não houvesse as cercas arbitrárias."
 (Já vejo por outro ângulo: Graças às cercas, a infinitude cansativa se torna um cantinho aconchegante.)

"Com uma sabedoria instintiva, Ermelinda não demonstrou que notara o seu passo para ela,
 assim como não se dá um grito de alegria quando uma criança começa a andar, para que
 esta não pare assustada por meses."

"Se uma pessoa fizesse apenas o que entende, jamais avançaria um passo."

"Um pouco vivida, sabia que na hora as coisas pareciam certas e depois não pareciam mais."

"Quando tomo um calmante, não ouço meu grito, sei que estou gritando, mas não ouço."

"De repente pareceu a Martin que ele andara em caminhos superpostos. E que sua verdadeira 
e invisível jornada se fizera na realidade embaixo do caminho que ele julgara palmilhar.
 E que a verdadeira jornada estava agora saindo subitamente à luz como de um túnel."

"... aquela iminência para a qual tudo pareceu debruçado."

“- E a senhora, por que veio para cá?
  - Que pergunta estúpida. É como se eu lhe perguntasse: por que é que o senhor vive!
  - Porque tenho certo instante em vista, disse ele."

"Deus sabe que há pessoas que não podem viver com a felicidade que há dentro delas,
 e então Ele lhes dá uma superfície de que viver, e lhes dá uma tristeza."

“É preciso ter técnica para pedir. Não é só dizer "me dá" e acabou-se! É preciso pedir disfarçando.
 Se a senhora precisa de um par de sapatos, o mais aconselhável seria dizer aos pouquinhos:
 meus sapatos estão velhos. Compreende? Seu marido um belo dia acordaria de manhã e,
 sem ao menos saber por que, diria assim: Vitória, meu amor, vou lhe dar um par de sapatos!
 Receber pedidos assusta muito as pessoas, que, no entanto, às vezes estão doidas para dar, entendeu?"

"... consigo levava a impressão que hoje, agora, neste momento, enfim se revelava. 
Como se tivesse guardado tanto tempo que o acontecimento enfim exalasse um maduro odor 
de fruto, e o vinho que fora novo tinha ganho espessura e essa qualidade que ilumina uma taça."

“A senhora olhou aquele homem, aquele homem que era cruamente o dia de hoje, e como tocar diretamente no dia de hoje, nós que somos hoje?
 E tudo é teu se tiveres coragem de olhar de frente, mas de súbito, naquele homem ali, 
o tempo viera de tão longe para se esborrachar em: hoje!  Urgente instante de agora.
Por erro de vida - e bastava um erro, nessa coisa frágil que é a direção, para que a pessoa 
não chegue - por um erro de vida ela jamais usara o silencioso pedido que usamos
 que faz com que os outros nos amem."

"Sobressaltou-se de novo, ainda não firme naquelas pernas que lhe estavam sendo dadas.
 E como um cego que tivesse recobrado a visão e não reconhecesse com os olhos aquilo que 
 mãos sensíveis sabiam de cor, ela então fechou um instante as pálpebras, tentando recuperar o conhecimento íntegro anterior; abriu-as de novo e procurou fazer das duas imagens uma só."

“Preciso me exagerar. Senão que é que faço de mim pequena?”

2 comentários:

  1. Adoro Clarice, Ângela? Você leu a biografia dela escrita por Benjamim Mozer? É imperdível!

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  2. Não li essa biografia. Na verdade, não gosto de tudo o que ela escreveu. Desse livro, por exemplo, "A Maçã no escuro", extraí, a meu ver, o melhor dele.
    O resto é loucura. Confesso que quase desisti de lê-lo.
    Em compensação, estou adorando o livro que você me indicou " Traduzindo Hannah", do Ronaldo Wrobel. E acho que alguém deveria escrever a sua biografia!

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