sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Lygia Fagundes Telles - Ângela Delgado

     Na rede, lendo a recém indicada pelo Brasil ao prêmio Nobel. Atenção, pronuncia-se como dúplex e tríplex.
    O primeiro dela eu amei.
    O segundo tem frases ótimas e engraçadas, em meio a uma e outra página relatando delírios de drogados tão deprimentes, que, se o livro não fosse de quem é, eu o teria fechado.
     Dei as instruções básicas à nova faxineira e agora ia me levantar, para lhe falar isso ou aquilo,
mas quer saber? Ela achará tudo. Lygia está me puxando, me detendo.
     Voltemos à leitura:
     "Ouço duzentos e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim."
     Parece alguém que está se enxergando cada vez mais.
     Um pouquinho mais adiante:
     "Lembro da ampulheta quebrada, entrei no escritório do pai pra pegar o lápis vermelho e esbarrei no vidro do tempo. Fiquei em pânico vendo o tempo estacionado no chão: dois punhados de areia e os cacos. Passado e futuro. E eu? Onde ficava eu agora que o era e o será se despedaçaram? Só o funil da ampulheta resistira e no funil, o grão de areia em trânsito sem se comprometer com os extremos."
     "A volúpia com que os homens criam e descriam a fatalidade. E depois atribuem a responsabilidade aos deuses."
      "Apenas um terço de nós é visível. O resto não se vê. O avesso.
Deve ter ficado satisfeita com sua alta porcentagem de mistério."
      Está explicada a invisibilidade. Quem mandou ser tão misteriosa?
       "Tacto com c para impedir a precipitação, certas palavras devem ter seu degrau, medida contra afobados."
       "Todo aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar seu prejuízo. Não cumprindo a obrigação, responde o devedor por perdas e danos." ' Isto é uma norma. Norma jurídica. Por negligência sua perdi a alegria.' - falou a personagem estudante de Direito.
     "Um telefonema hoje, um encontro rápido amanhã, uma esperança para Deus sabe quando."
     E perco a esperança de achar o trecho em que ela fala da filosofia do ser ou estar...
Resumindo, o estilo é sumamente magnético.
     O terceiro, em breve.
    Ouvindo Aznavour, vou tão feliz dirigindo rumo à Biblioteca, para pegar outros livros dessa grande escritora, que digo a mim mesma: Menos, menos! Você sabe como a vida cobra cada alegria, sabe do círculo vicioso, alegria, tristeza, alegria, tristeza, per omnia saecula saeculorum...
   "Dominus vobiscum. Et cum spirito tuo. Ite, missa est."
   

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