quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O Ano Novo



Carlos Magno de Melo
Autor dos romances :Mata Serena,    Relatório Mandaras,Longe da mão do rei,O espírito do rabo do fogão,
Bar Castelo, Livramento Pentecostes, Canção da água e de mais três livros de contos.


Uma certeza, tudo ficou para trás. Ano novo, vida nova. Exceto a conta do cartão de crédito, o imposto da casa atrasado em duas parcelas, o cheque especial no vermelho, as jóias da esposa e da sogra no prego da Caixa, as contas penduradas no armazém da esquina e o aluguel da casa, que o locatário já está olhando com cara feia e mandou devolver a jaca que lhe mandamos de presente de natal. No mais, vida nova. 
Agora é começar a dieta da lua, já que a do sol, a do rabanete, a das frutas, a dos carboidratos e a da água com limão se fizeram um fiasco tremendo. Todas, todas, acabaram que aumentaram o nosso peso. Hora de tomar jeito e entrar firme na ginástica. Próxima segunda-feira. Sem falta.
Acabar com todas as crendices. Agora é hora de sermos firmes e pragmáticos. Nada de carregar patuás no pescoço. Hora de tirar as duas dezenas de fitinhas do Senhor do Bonfim do retrovisor para dar sorte e não bater o carro financiado e com o seguro vencido. Esse negócio de entrar o ano depois de saltar três ondas, jogar sal grosso atrás da porta, comer sementes de romã na passagem, isso tudo ficou para trás. Agora, vida nova, novos ares, muita confiança no presente e certeza de êxitos no futuro. Toc-toc três vezes na madeira.
Nunca mais falar mal de ninguém. Só do Sarney e do Jader Barbalho e do Maluf e do... Bem nesse caso não é falar mal, é constatar, aí, pode. Também ninguém é de ferro. Ninguém está aqui propondo que viremos anjos de uma hora para outra.
No mais, tudo correrá bem, assim seja. Teremos, com toda consciência do merecimento, por tudo de bom que fazemos, o que de melhor a vida nos reserva, sejamos crentes ou ateus. Amém.







5 comentários:

  1. Não se trata de uma troca de gentilezas, mas como gostei desta sua crônica! A realidade do brasileiro, tal e qual, supersticioso, cheios de promessas e mergulhado na certeza de que o bem será recompensado. Somos mesmo nós. E viva o Ano Novo!

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  2. Já vi que a ficha caiu e você percebeu que não sou eu exatamente a laureada, mas ele vai gostar do comentário, apesar de tudo.
    Beijinho.

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  3. Como gostei desta crônica! A realidade do brasileiro, tal e qual, supersticioso, cheios de promessas e mergulhado na certeza de que o bem será recompensado. Somos mesmo nós. E viva o Ano Novo!

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  4. Só depois que havia postado o outro comentário é que vi que a crônica é de Carlos Magno. Pois meus parabéns ao autor, porque gostei demais!

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  5. Obrigada, Cinthia. Eu também gostei e vem mais por aí...

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