sexta-feira, 2 de setembro de 2011

XXXII


                                                                          
     Quase sete horas. Lá vamos rumo ao colégio. Em minha “lavagem anímica”, no bom sentido, pois também pode ser chamada de formação musical, coloco Fado.
     Ainda não me arrisco a perguntar aos sonolentos se estão gostando da música. É cedo. Ouvem as três melhores músicas do cd e depois troco por uma da Shirley Bassey.
      A vírgula do meu dia era o computador. Lia o jornal, ia para o computador; molhava as plantas, ia para o computador; fazia ginástica, ia para o computador. Agora, devido a um problema no rim, o ponto e vírgula será o copo d’água, porque assim como o tempo está apressado, seu filho, o dia, então, nem se fala! Se mergulhamos em um livro ou nos e-mails, o sol se põe e a água ficou esquecida.
      Portanto, foi muito bom o “chá de cadeira” de duas horas no Pronto-Socorro, à espera de uma tomografia. Fiquei lendo, com o risco de não ouvir o chamado da minha senha (como aconteceu na fila do Banco, e no aeroporto, quando Saramago me fez perder um vôo internacional), mas livre das solicitações domésticas, provisoriamente ampliadas. A televisão em salas de espera atrapalha um pouco, mas consegui que desligassem o ar condicionado, antes que congelássemos.

      - Vó, preciso de um cinto.
      - E eu de uma sacola – me informa a neta Clara, após perguntar pela sandália dela.
      - Tem uma agulha; viu a minha carteira; meus óculos? Pergunta o neto mais velho, ao longo da semana, e passo eu agora a colecionar o que me é pedido em Gincanas quase que diárias. Vou me tornar expert nesse esporte, depois de descer das alturas, onde me encontro às vezes, compenetrada em leituras ou e-mails, para aterrissar no meio de papelão, caixa de ovos, tesoura, algodão, feijão, balão, jornal,  revistas, cola e o diabo a quatro para as tarefas escolares e experiências científicas.
        São inúmeras as indagações se vi isso ou aquilo, a mim, que já ando esquecida.
        Não há de ser nada. Tenho agora quatro ajudantes para recuperarem o que perco por aqui, e para demonstrarem que esquecimento não é apanágio de idade alguma.

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