quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Segunda e última parte da resenha do livro "A menina que roubava livros"

            Liesel costumava passar pelas casas dos ricos onde buscava roupa para ser lavada. Com a guerra e os tempos difíceis, as madames foram dispensando o serviço. Liesel sempre se preocupava com isso, mas quando também foi dispensada pela mulher do prefeito, a única que ainda solicitava os serviços de sua mãe, em cuja casa e biblioteca podia ficar lendo, Liesel levou um choque tão grande, que recusou o livro que lhe era estendido como consolo.

            Um dia, porem, ela volta à casa e, entrando pela janela da biblioteca, apodera-se do que outrora havia lhe sido ofertado. Dias depois, o maior amigo de Liesel mostra-lhe um livro no peitoril da conhecida janela, o que foi uma grande tentação para Liesel, que se apodera do volume, onde encontra a seguinte carta:

: ... When you came back, I should have been angry, but I wasn't. I could hear you the last time, but I decided to leave you alone. You only ever take one book (mesmo quando ela os emprestava), and it will take a thousand visits till all of them are gone. My only hope is that one day you will knock on the front door and enter the library in the more civilized manner..."

      Se preferirem a versão espanhola...
    “Tendría que haberme enfadado cuando volviste, pero no lo hice. La última vez te oí, pero decidí dejarte tranquilla. Sólo te puedes llevar un libro de cada vez y tendrías que entrar un millar de veces para llevártelos todos. Lo único que espero es que algún día llames a la puerta principal y entres en la biblioteca de una manera más civilizada…”
                Quatro capítulos mais adiante, Liesel, ainda com treze anos, presencia um desfile de  judeus:
                “Las expressiones atormentadas de hombres y mujeres extenuados se volvían para  suplicarles, no ayuda – ya habían renunciado a ella -, sino una explicación.

                Liesel esperaba que fueran capaces de adivinar y reconocer en su rostro cuán profundo, genuino y perdurable era su pesar.
               ‘En mi sótano hay uno de los vuestros!’, quiso decirles…”

                O pai de Liesel, ao ver a triste procissão, não se conteve e jogou um pão a um dos passantes e isso lhe valeu, a si e ao judeu, covardes chibatadas e chutes. Mal se levantou, caiu em si, perguntando-se o que havia feito! Seria perseguido e sua casa vasculhada... Ficou, então, acertado que Max, se não fosse pego, voltaria a se encontrar com Hans Hubermann após quatro dias, em um lugar bastante afastado.

                No triste vazio no qual a casa mergulhara, Liesel leu no dicionário ganho o significado da palavra silêncio – ausência de som ou ruído.
               A ninguém escapou que o dicionário de definições estava completa e profundamente equivocado, sobretudo quanto aos vocábulos relacionados.
                O silêncio não era quietude ou calma, e não era paz.                                          
        
              A única coisa que Hans encontrou, quando chegou ao lugar combinado foi uma nota debaixo de uma pedra, junto a uma árvore: “Vocês já fizeram o bastante”.

                 Ler livros em várias línguas é uma delícia porque lendo que uma enfermeira alemã cruzou seus braços sobre seu “devastating chest” só posso sorrir ao visualizar a versão espanhola e sua “portentosa delantera”. O “Word” aqui já está ficando doido, pois não sabe mais em que língua se está escrevendo e eu, sem me dar ao trabalho de lhe esclarecer, adiciono tudo ao dicionário. O “Word” no meu notebook está ficando poliglota.
                Em outras frases, tenho que me render à beleza de uma tradução, como a que foi feita para a frase: “... half twitching, half speaking” que figurou desta maneira: “...mezclando tics y palabras...”.
               “Moonlight on dark, em espanhol ficou “Luz de luna en la oscuridad”. Dei uma olhada na versão francesa e ficou lindo: “Clair-obscur”. Não gostei como ficou em português:  Luar nas trevas.
                Não sei se vocês vão acabar gostando de tradução, mas quanto a mim, ainda vou ler este livro, no mínimo, duas vezes. Uma em francês e outra em português. Estou achando-o melhor ainda do que “Os Miseráveis”!

                Desculpem-me a demora da resenha, mas, é que não me contento com o trabalho dos tradutores. Checo tudo e se me deparo com algum achado, acrescento-o ao dicionário, para eventuais futuros consultores.
                Terminei a releitura mas não me estenderei nesta espécie de resenha. Termino-a dizendo que, apesar de conhecer a história, quase me engasguei no final (quem mandou comer um biscoito enquanto me emocionava nas últimas páginas do melhor livro que já li até hoje! E olhe que é difícil eu passar um dia sem ler...)
               Depois de passar o domingo lendo, sonhei que havia comprado um tênis para a minha mãe, que o experimentou dando alguns passos, mas ao segurá-lo, me arrependi de tê-lo comprado, pois não sabia se era um livro com cadarço ou tênis com lombada, onde, vejam só, faltavam páginas! 

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