terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Oitavo capítulo de "Beijos na alma"

Hoje, é outro o protesto. Mandei a seguinte cartinha para o jornal:
Vendo novamente ciclistas ignorando o sinal vermelho, impedindo a passagem de dezenas de carros à espera do sinal verde, resolvi consignar a minha indignação.
Claro que é desagradável interromper o embalo, principalmente quando há outros em sua cola, mas isso não lhes dá o direito de desrespeitar o sinal de trânsito. Um motorista, quiçá atrasado para um compromisso (o que não é o caso de alguém se exercitando), freia diante do semáforo, e é por isso que outros carros não devem estar grudados em sua traseira. Que os ciclistas tomem esse cuidado, é o mínimo que devemos deles esperar, em retribuição à faixa de acostamento, que perdemos para eles. Daqui a pouco será o corredor que corre com suas próprias pernas que também não há de querer parar simplesmente porque, imagine, o sinal deixou de lhe ser favorável!
Publicaram o desabafo, embora sem a frase final, e vejo o seguinte comentário:
“Moradora do Lago Sul questionou neste espaço a postura dos ciclistas em passeios coletivos. Segundo ela, não respeitam os sinais de trânsito e prejudicam os motoristas.
A postura ideal de todo ser humano deveria ser respeitar, ceder e acima de tudo agir sempre com bom senso no trato com os demais e o meio ambiente, pois se assim fosse, tudo ia andar corretamente e todos iam ter seus direitos e deveres preservados e viver em um mundo socialmente justo e preservado. Mas o ser humano optou por buscar o benefício próprio e geralmente isso significa o prejuízo alheio e do planeta. Porém, a despeito da falha de alguns ciclistas, até por serem seres humanos, a moradora revela em suas palavras uma postura mesquinha, alegando que os motoristas “já perderam” o acostamento para os ciclistas, mostrando que não busca compartilhar e apoiar ações vitais para a continuidade da vida no planeta, e sim manter suas facilidades para andar em seu carro, mesmo que isso signifique grande impacto ambiental e as demais consequências negativas que esse hábito vem gerando no planeta.”
Publicaram minha tréplica:
Revolto-me com a poluição e quando vejo um veículo descarregando uma fumaça excessiva, meu ímpeto é o de interceptar o motorista, ingenuamente como se o pneu dele tivesse furado, para lembrá-lo de que seu filho respira! Também procuro amenizar o impacto ambiental pedalando, mas foi a pé que presenciei o desrespeito ao sinal de trânsito por parte de ciclistas.
Preocupei-me com a possibilidade de um motorista atropelar um deles, caso em que a corda não arrebentaria do lado mais fraco, pois com certeza, embora injustamente, o ônus do acidente recairia sobre o motorizado.
Concordo com quem disse ser respeitosa a postura ideal de todo ser humano, mas não quando ele exclui os ciclistas de tal dever.
Às placas chamando a atenção dos motoristas para a existência de ciclistas à direita, deveria ser adicionado o alerta a estes de que podem surgir carros à sua esquerda.
Afinal, a pista ainda é deles.

Sei que o que um homem pensa de si mesmo determina, ou melhor, revela e decreta o seu destino, mas eu não quero o de tomar conta do mundo, como sentia às vezes estar fazendo Clarice Lispector (se não me engano). No entanto, por mais que não queria essa incumbência não tem jeito: saio a pé e vejo cenas que me tocam e me fazem reagir.
Depois de passar sermão aos ciclistas pelo jornal, hoje fiquei com pena ao ver dois deles caírem, por não terem tido tempo de frear diante de um carro irresponsavelmente parado em plena faixa dos ciclistas. Se o carro estivesse com um problema no motor, tudo bem, teria que pegar o acostamento novamente emprestado. Mas, a senhora estava ao que parece pegando uma muda, pois seu suposto jardineiro estava com uma enxada, ou será que haviam acabado de enterrar um animalzinho? O que sei é que foi muito rápido. Ela estacionou e pouco depois vieram os ciclistas saudáveis e louváveis em seu exercício do sábado. Deixei minha perplexidade se transformar em outro sentimento, dessa vez contra a motorista inconseqüente que foi embora sem nem ao menos socorrer os ciclistas, e, infelizmente, sem ação no momento, apenas testemunhei o ocorrido, me tranqüilizando ao ver um carro parando para acudir os ciclistas tombados. Parece que foi só um susto e arranhões no joelho, mas reitero aqui a precaução a ser tomada pelos esportistas de pedalarem a certa distância de seus companheiros, para poderem frear diante de imprevistos. Pois se em um dia um não respeita o sinal, no outro é a motorista que se apropria indevidamente de sua ex-faixa de acostamento.
E indevidamente também, é que completo mais um ano de vida, dessa vez, no Rio de Janeiro.
Diante do bolo, hesito quando Quérida Sister pergunta se o bolo era para o dia seguinte.
- Se não mexermos nele, ninguém o comerá até lá.
- Ninguém?! Então devemos comê-lo...
- Já que iremos à praia e depois almoçaremos fora, acho que podemos parti-lo... Mas, vamos ao menos esperar pelo Vianney, que ficou de vir hoje.
- Ele vai demorar...
Assim, inauguramos o bolo antecipadamente.

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